segunda-feira, 29 de março de 2010

A Arte de Contar Histórias...



A arte de contar histórias traz o contorno, a forma. 
Reatualiza a memória e nos conecta com algo que se perdeu nas brumas do tempo.


Busatto, Cléo. Contar e Encantar - Pequenos Segredos da Narrativa. Vozes, 2008

À Criança que Fomos e Sempre Seremos...



Hoje, fui contar histórias numa escola para crianças entre 10 e 12 anos, contei “causos” acontecidos na minha infância.
Uma delas perguntou:
“Tia, como pode a "Senhora" "nessa" idade lembrar de coisas que aconteceram quando a "Senhora" tinha 7 anos? 
Tive um acesso de riso.
Respondi que 
Quando a gente é criança a gente é criança e pronto,
quando vem a adolescência a gente só pensa em ser gente grande e esquece da criança, 
mas quando somos adultos fazemos questão de lembrar que já fomos Crianças. 
A resposta saiu embaralhada com o riso e depois me deixou muito emocionada.
Pensei: que sorte tenho eu de lembrar da criança fui.
E Sorri.

sábado, 13 de março de 2010

O Artesão no Sereno


Não convém embrulhar
este brinquedo feito de amor. 
Pode estragar, pode mudar de cor,
mudar de rumo, deixem, que ele precisa de ar.
E de resto ele foi feito para meu filho
que é pessoa singela e sensível,
não vai gostar de ver orvalho e ternura embrulhados.
Feito para o meu filho,
pode ser para o filho de qualquer um, 
por isso não convém 
que ele seja levado em mão ao dono,
que não tem pressa; 
um dia, os correios do vento acharão sua casa.
Este brinquedo pode e pede levar sol.
Mal sol da manhãzinha.
O da tarde não serve porque altera os azuis.
Não disse o azul geral.
Sei a que azuis refiro,
sei que azuis usei.
Brinquedos são peças mui delicadas
de um modo geral,
até os nobres cavalos
que pobres crianças tiram de vassouras.
Quanto mais esses brinquedos que devem,
depois de feitos, ou para que fiquem feitos,
adormecer muitas noites no sereno da janela.
Só quem fabrica é quem sabe
(ou então não sabe nunca)
as infinitas maneiras e desmaneiras do ofício,
a total falta de lei para compor o mais simples,
se é que todos não são simples,
desses brinquedos de amor,
feitos de tudo, inclusive de palavras que,
ao final de contas, são o de menos.
Mas não sei de teorias,
minha vida é fabricar o que não sei,
fabricando o amor no amor por amor dos brinquedos,
meus brinquedos,
ai, meu Deus,
vou trabalhar,que o sereno hoje está bom.


Thiago de Mello
Faz Escuro mas eu Canto 
Editora Bertrand Brasil

sábado, 6 de março de 2010

Tem Sentido Contar um Conto?



Vivo me perguntando se as histórias que conto, fazem sentido pra quem as ouve.

Difícil saber. 

Penso que se por alguma razão alguma palavra daquele conto ou causo ou lenda me tocou, imagino que de alguma forma chegará também naquele que com os olhos atentos me escuta.

Escolho o texto por gostar das palavras. Por gostar da alma do texto. Por gostar de me sentar em roda e contar. As vezes invento na hora com ajuda da platéia, e posso garantir que saem coisas fantásticas, mas que só fazem sentido para aquele grupo. O grupo me conta através de palavras e imagens em que ponto do conto da vida estão.

Sim, porque nossas vivências são imagens arqueológicas saídas dos mitos clássicos.

E se uma história me perpassa, é porque naquele momento estou naquele ponto do conto da vida.

E sei que a pergunta nunca se calará. Haverá dias que terei respostas, noutros ficarei sem nada entender.

Contar Histórias é resignificar nossas Histórias. Talvez por isso, terei muitas perguntas e poucas respostas.

terça-feira, 2 de março de 2010

Meu Melhor Bom Dia do Dia.



Postei hoje no meu Orkut uma frase de José Mindlin que diz: "Quem pega o gosto pela leitura na infância tem esse gosto para o resto da vida", logo após uma amiga querida, a Lau, postou o seguinte recado:


"Bom dia amore, concordo com a frase que vc colocou em seu perfil, aqueles livrinhos que você deu a Úrsula, fez com que ela se apaixonasse pela leitura. Pra vc ter ideia, ela me pediu de aniversário que eu a levasse em uma livraria, para que ela pudesse escolher um livrinho de presente. Fiquei toda orgulhosa, bjus nos pimpolhos...te amo Bel!!!"


Depois de uma declaração dessas o que mais eu posso dizer?

Meus olhos se encheram d´água, fiquei profundamente emocionada. Foi meu melhor presente. Meu melhor Bom Dia do dia.

Depois perguntei a ela se podia publicar aqui o seu recado, ela me respondeu:

"Pode sim Bel, afinal você é a culpada, rsrs. Obrigada amiga e quando tiver livrinhos para doar lembra dela, Bjus."

Quero morrer carregando essa Culpa! Eita Culpa Boa!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Minha Homenagem à José Mindlin






Minha história com os livros começou meio na contracapa. Na cidade onde eu passei minha infância, não havia livrarias, nem bibliotecas, muito menos gente que gostasse de livros, pelo menos eu não os conhecia. Livros, só aqueles cedidos pelo governo destinado ao ensino nas escolas públicas.

Meu pai era analfabeto, minha mãe semi-alfabetizada. Ele se empenhava nos meus estudos, dizia-me com freqüência que eu não poderia ser como ele. Tinha que estudar.

Cidade pequena no interior no Brasil recebe com freqüência a visita de “mascates”, e numa visita dessas, meu pai me presenteou com duas caixas de livros tipo “Barsa”. Eram duas coleções de assuntos gerais, como história, psicologia, agricultura. Livros que nunca li por serem de difícil leitura para uma menina de 8 ou 9 anos.

No meio daqueles inúmeros títulos, havia uma coleção de “historinhas” do Walt Disney, para minha salvação. Passava as tardes depois da escola, lendo as histórias e encenado cada uma delas, brincando de ser cada personagem. Acho que alí  que comecei a desenhar um pouco da atriz que mais tarde desabrochou em mim. Contava as “historinhas” para minha babá, minha única companhia numa infância sem muitos amigos. E Também ali, esbocei rascunhos da futura Contadora de Histórias.

Pouco mais tarde minha mãe se torna evengélica e se separa de meu pai. Os livros vieram conosco, como fardo, pois eu tinha a obrigação de lê-los e eu não entendia nada. A igreja que minha mãe escolheu para freqüentar era muito rigorosa, e os livros viraram lixo, pois não eram palavras de Deus.

Tive uma longa noite sem leitura alguma, até que para ajudar a família, fui trabalhar numa casa, para fazer companhia a uma senhora muito velha e doente. No sótão da casa havia milhares de Sabrina e Bianca. Passei a ler aqueles livros escondida pelos cantos da casa, e eles foram minha companhia por muito tempo, até que minha mãe descobriu que eu andava lendo e me tirou do trabalho.

Um dia na sétima série,  meu professor de História, o Gabão, observando meu interesse pelos livros, me indicou a leitura de “Na Luta Sem Pedir Licença – de Eliane Maciel”. Na época freqüentava a igreja, tinha longos cabelos e usava saia. Ao terminar o livro, eu não era mais a mesma. Sai da Igreja, cortei os cabelos, fui pra rua sem pedir licença. Não sem muita gritaria, choro e drama familiar. Mas fui. Fui à luta.

Desde então sempre tem um livro comigo, sou capaz de esquecer o celular, mas não um livro. Leio muito. A literatura passou a ser meu “Guru”. Todas as minhas mudanças e decisões foram frutos de reflexões feitas a partir de alguma obra.

Não tinha dinheiro para comprar livros, então a Biblioteca Pública do Paraná acabou se tornando minha sala de estar. Virei devota dos livros. Sou capaz de emprestar um livro e fazer recuperações se for necessário. Não entendo pessoas que tomam um livro emprestado e além de demorar, ainda tem a cara de pau de devolver estragado ou ainda dar sumiço na peça. Fico ainda mais danada quando se trata de acervo público. Pelo meu caminho ajudo montar bibliotecas, gosto de doar livros, de presentear livros. Nunca jogo um livro fora.

Livro pra mim é Sagrado. É o Verbo. São as Palavras de Deus.

Minha biblioteca pessoal começou tarde. Um dia fui ajudar uma amiga numa mudança e ela estava jogando fora 3 caixas de livros espírita. Levei todos para casa e troquei num sebo por livros do meu interesse. Consegui 10. Mas eram os “meus” livros.

Hoje, minha biblioteca é interessante. Os livros que tenho são o patrimônio que deixarei aos meus filhos. O Francisco, por exemlpo, tem 1 ano e 8 Meses, mas pega um livro com tanto carinho e cuidado que todos se impressionam. Nunca ragou um livro.

Sou da opinião que os livros nos escolhem. Comigo sempre foi assim. Nos livros tenho tudo o que preciso para alimentar minha Alma.

Hoje, Ler se tornou meu ofício. Ofício de Amor e Dedicação. Por isso conto histórias.

Vem Tuitá Comigo