quarta-feira, 26 de maio de 2010

Hoje Visto Meu Traje Real


Hoje visto meu traje Real;
Minha capa de lençol, 
Meu chapéu de papel que rima com Maribel.
Hoje visto meu traje Real.
Pés descalços saio a galope em meu cabo de vassoura.
Pulo pra cá e pra lá, habito o saci que há em mim.
Porque hoje é meu aniversário.
E por ser dia tão bonito faço um bolo de terra, acendo velas de gravetos;
Me esparramo na grama contando nuvens, lambendo os dedos.
Hoje visto meu traje Real.
Porque sou Rainha do Castelo do Céu;
Hoje visto meu traje Real.
Porque os Gêmeos em mim habitam um eterno brincar;
E só por gosto, hoje visto meu traje Real.
E por ser dia tão bonito convido a criança que há em ti pra se juntar à roda e cantar:


"O Pião Entrou na roda, ó pião!
O Pião Entrou na roda, ó pião!
Roda Pião, Bambeia Pião
Roda Pião, Bambeia Pião"


Tela "Brincando Roda" de Ivan Cruz (http://www.brincadeirasdecrianca.com.br)



Fernando Pessoa


“O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para eles mortos, e ele um morto para eles.
A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar. A atitude cauta, a irônica, a deslocada – todas elas privam o intérprete da primeira condição para poder interpretar.
A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja.
A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, ordena, reconstrói noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que se usou da simpatia e da intuição. Um dos fins da inteligência, no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está em baixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrando essa relação, se a intuição não a tiver estabelecido. Então a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.
A quarta é a compreensão, entendendo por essa palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, tudo é o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese; e a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.
A quinta é menos definível. Direi talvez, falando a uns que é a graça, falando a outros que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros que é o Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma dessas coisas, que são a mesma, da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.”

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Vem Tuitá Comigo