quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Conquista do fogo e o Urubu Rei


Naquele tempo os índios Kuikúru não tinham o fogo. Aí o grande herói Kanassa decidiu sair da aldeia a sua procura. Para se aquecer na longa caminhada, ele levava na mão fechada um vaga-lume, que era a sua única luz.
Kanassa caminhou muito, contornando a Grande Lagoa. Dormiu e acordou várias vezes, até que encontrou a ave Saracura. Os dois atravessaram de barco a Grande Lagoa. Lá no outro lado, no barro da beira da água, Kanassa desenhou uma arraia e deu vida a ela. Mas, como estava escuro, pisou sem querer na arraia e foi ferido. Kanassa precisava mesmo do fogo para clarear a escuridão. A luz do vaga-lume era muito pequena.
A Saracura disse que o Dono do Fogo era o Urubu-Rei de Duas Cabeças, muito difícil de ser encontrado. Para que ele aparecesse era preciso matar um veado e deixá-lo no mato.
Kanassa desenhou no barro um grande veado morto e se escondeu em sua unha. Depois de três dias apareceu o Urubu-Rei de Duas Cabeças pousado no alto de uma árvore grande e seca. Quando o Urubu-Rei foi comer o veado, Kanassa agarrou com força a sua perna e disse:
"Dono do Fogo, não tenha medo. Eu não vou machucar você. Eu só quero que você me ensine onde está o fogo. Minha gente precisa do fogo."
O Urubu-Rei ficou um pouquinho zangado, mas mesmo assim chamou o seu filho, um passarinho preto, e ordenou que ele fosse buscar o fogo. O passarinho foi buscar o fogo no céu e ao voltar veio descendo bem devagar para que ele não apagasse. O fogo foi entregue a Kanassa que, na mesma hora, soltou a perna do Urubu-Rei. Este, antes de ir embora, disse para o índio corajoso:
"Quando o fogo apagar, quebra uma flecha em pedaços, amarra bem um pedaço sobre outro e firma no chão. Em seguida, procura uma varinha de urucum e com ela, apoiando uma das pontas nos pedaços da flecha, gira com força até o fogo surgir."
Tendo conquistado o fogo, Kanassa precisava atravessar de volta a Grande Lagoa. Nessa travessia, o herói recebeu a ajuda especial da cobra Itóto, que ficou conhecida como "a cobra que conduziu o fogo". De volta à aldeia, Kanassa ensinou a sua gente a fazer, a conservar, a apagar e a utilizar o fogo. Desde então os Kuikúru também são Donos do Fogo.
História recontada do folclore indígena especialmente para o Mingau Digital, pelo museólogo e poeta Mário Chagas.

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