segunda-feira, 1 de março de 2010

Minha Homenagem à José Mindlin






Minha história com os livros começou meio na contracapa. Na cidade onde eu passei minha infância, não havia livrarias, nem bibliotecas, muito menos gente que gostasse de livros, pelo menos eu não os conhecia. Livros, só aqueles cedidos pelo governo destinado ao ensino nas escolas públicas.

Meu pai era analfabeto, minha mãe semi-alfabetizada. Ele se empenhava nos meus estudos, dizia-me com freqüência que eu não poderia ser como ele. Tinha que estudar.

Cidade pequena no interior no Brasil recebe com freqüência a visita de “mascates”, e numa visita dessas, meu pai me presenteou com duas caixas de livros tipo “Barsa”. Eram duas coleções de assuntos gerais, como história, psicologia, agricultura. Livros que nunca li por serem de difícil leitura para uma menina de 8 ou 9 anos.

No meio daqueles inúmeros títulos, havia uma coleção de “historinhas” do Walt Disney, para minha salvação. Passava as tardes depois da escola, lendo as histórias e encenado cada uma delas, brincando de ser cada personagem. Acho que alí  que comecei a desenhar um pouco da atriz que mais tarde desabrochou em mim. Contava as “historinhas” para minha babá, minha única companhia numa infância sem muitos amigos. E Também ali, esbocei rascunhos da futura Contadora de Histórias.

Pouco mais tarde minha mãe se torna evengélica e se separa de meu pai. Os livros vieram conosco, como fardo, pois eu tinha a obrigação de lê-los e eu não entendia nada. A igreja que minha mãe escolheu para freqüentar era muito rigorosa, e os livros viraram lixo, pois não eram palavras de Deus.

Tive uma longa noite sem leitura alguma, até que para ajudar a família, fui trabalhar numa casa, para fazer companhia a uma senhora muito velha e doente. No sótão da casa havia milhares de Sabrina e Bianca. Passei a ler aqueles livros escondida pelos cantos da casa, e eles foram minha companhia por muito tempo, até que minha mãe descobriu que eu andava lendo e me tirou do trabalho.

Um dia na sétima série,  meu professor de História, o Gabão, observando meu interesse pelos livros, me indicou a leitura de “Na Luta Sem Pedir Licença – de Eliane Maciel”. Na época freqüentava a igreja, tinha longos cabelos e usava saia. Ao terminar o livro, eu não era mais a mesma. Sai da Igreja, cortei os cabelos, fui pra rua sem pedir licença. Não sem muita gritaria, choro e drama familiar. Mas fui. Fui à luta.

Desde então sempre tem um livro comigo, sou capaz de esquecer o celular, mas não um livro. Leio muito. A literatura passou a ser meu “Guru”. Todas as minhas mudanças e decisões foram frutos de reflexões feitas a partir de alguma obra.

Não tinha dinheiro para comprar livros, então a Biblioteca Pública do Paraná acabou se tornando minha sala de estar. Virei devota dos livros. Sou capaz de emprestar um livro e fazer recuperações se for necessário. Não entendo pessoas que tomam um livro emprestado e além de demorar, ainda tem a cara de pau de devolver estragado ou ainda dar sumiço na peça. Fico ainda mais danada quando se trata de acervo público. Pelo meu caminho ajudo montar bibliotecas, gosto de doar livros, de presentear livros. Nunca jogo um livro fora.

Livro pra mim é Sagrado. É o Verbo. São as Palavras de Deus.

Minha biblioteca pessoal começou tarde. Um dia fui ajudar uma amiga numa mudança e ela estava jogando fora 3 caixas de livros espírita. Levei todos para casa e troquei num sebo por livros do meu interesse. Consegui 10. Mas eram os “meus” livros.

Hoje, minha biblioteca é interessante. Os livros que tenho são o patrimônio que deixarei aos meus filhos. O Francisco, por exemlpo, tem 1 ano e 8 Meses, mas pega um livro com tanto carinho e cuidado que todos se impressionam. Nunca ragou um livro.

Sou da opinião que os livros nos escolhem. Comigo sempre foi assim. Nos livros tenho tudo o que preciso para alimentar minha Alma.

Hoje, Ler se tornou meu ofício. Ofício de Amor e Dedicação. Por isso conto histórias.

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